¶ Se quer por ficar vingado
quando vyr alguem queyrar
dyr lhe ey mao namorado
por que eſcolheſtes cuydado
contro tryſte ſoſpirar.
Ueja n todos tomados
na damygas mas demmigo
& aſſy galardoados
das por que vyues penados
comeu ſam de quem nã dygo.

¶ Começa o coudel moor ſu-
as rrazões por ᵱte do ſoſpy-
rar cotra o cuydado endere-
çãdo ſua fala adyta ſeñora.

¶ Poes me cõuem q̃ precure
por quem vyda tem ſogeyta
voſſa merçe me ſegure
que ſa crueza nam dure
a meſſer nyſto ſoſpeyta.
Ca eu nam me marauylho
poys o feyto ja ſy vay
de nam dardes fee o pay
de quem morto a ves o filho.

¶ Pollo qual ſaquy acudo
he por ſſer mays que forçado
poys payxões pelo meudo
ſoſpirar cuydar & tudo
he por voſſa mão lançado.
& como quem ambos ſente
dyz que pode eſtar cuydar
ſoo per ſy mas ſoſpirar
nunca ſoo mas juntamẽte.

¶ Contra o que dom joam alegou.

¶ E vos ſenhor dom joam
ca legaes com treſta parte
ſey que ja vyſtes queſtao
que daua ſem dar payxam
cuydado grande que farte.
& vyſtes quem ſſa legraſſe
com cuydados que cuydaua
mas nam ja quem ſoſpyraua
que com prazer ſoſpyraſſe.

¶ Alguũs jndo camynhando
cuydando fora de tento
que fazes lhe preguntando
rreſpondem hya cuydando
em myl caſtelos de vento.
Das fazendo tall queſtão
honde ſoſpyro ſſe pouſa
rreſponde por hua couſa
que me chega o coraçam.

¶ Cõtra ho que diſſe joam
gomez.

¶ E voo que de troua dor
calentaes os trouadores
como daes vos meu ſenhor
ho cuydado mays prymor
quo ſoſpyrar nos amores.
Que ſe vos bẽ eſguardays
vos ſoſpiros nunca vyſtes
ſe nam com amores triſtes
quãdo dam penas mortays.

¶ Cuydados como ſabes
çerto couſas ſam geraes
cuydados achaloses,
no comprar quando cõpraes
no vender quando vendes.
Se mandaes couſas a frãdes
cuydado faz ſegurar
mas damores carregar
rretorna ſoſpyros grandes.

¶ Quem cuydado quer cõtar
cuydar he lançar em rrenda
cuydar he vyda tomar
cuydar he ſempre cuydar
cuydar cuydar na fazenda.
Cuydado tẽ quẽ tem prigas
cuydado quem tem demanda
outro cuydado ſe manda
comprazer não com fadygas

¶ Mas nã he ja couſa noua
ſoſpirar com mal damores
ca vſſe payxam rrenoua
ſoſpirar me leua a coua
com ſeus grandes deſfauores
Soſpyros tryſtes que vem
rrefynãdo dos ſentydos
rrazem ſeus pendões rẽdidos
pella fee que v nam tem.

¶ Contra ho que dyſſe nu-
no pereyra.

¶ Uos cunhado qua legaſtes
narçyſo tambem mancyas
nam ſey vlhe vos achaſtes
ou como cuydar cuydaſtes
querez acabar ſeus dias.
Mas tu ſoſpirar que cortas
alma bofes antredanhas
nam alegas com eſtranhas
teſtemunhas que ſam mortas

¶ Alegayſme vos jſeu
& oriana com ella
& falaes no cuydar ſeu
como que nunca ly eu
ſoſpirar triſtam por ella
Mylhor v poſto alegar
quem diz me males ſobidos
es fazer los mys gemidos
y ſoſpiros eſforçar.

¶ Mas por nã jr maes o cabo
do faltar com noſſos males
nyſto ſoo com voſco a cabo
que dyſoutro nam por gabo
ſoſpyros anſyas mortales.
& aſſy que ſe vos cata
cuydado vyda ſegura
lembrando ſa fremoſura
ſoſpirar por ell mata.

¶ Cõ as q̈es rrezões cõcluſo
vaa ſenhor o rrezoado
& achares nelle confuſo
quem cuydado tem por vſo
ſe nã tem maes que cuydado.
Mas ſer morte muy jnteyra
ſoſpyrar negar nam poſſo
& ſſer vyſto pelo voſſo
voſſo jorge da ſylueyra.