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CARTAS DE INGLATERRA

d’um varão com as suas cem bocas, applicadas ás suas cem tubas, e voando de um a outro confim do universo — é uma das imagens mais descaradamente falsas que nos legou a Antiguidade. Esse estrondear das cem tubas morre como um suspiro dentro da área humilde d’um corrilho ou d’uma coterie: e nada viaja com uma lentidão egual á da Fama. Um fardo de fazendas gasta quatro dias a vir de Londres a Lisboa — e os nomes de Tennyson, Browning, Swinburne, os tres grandes poetas da Inglaterra, e que ha quarenta annos são a sua mais pura gloria, ainda cá não chegaram. É verdade que todo o mundo necessita flanellas — e nem todo o mundo supporta poesia.

Mas uma celebridade não encontra só difficuldades em transpôr a fronteira — acha-as sobretudo e quasi insuperaveis em fixar a atenção da grande turba dos seus concidadãos. Principalmente n’um paiz como a Inglaterra, em que a aspera lucta pela existencia, a soffrega preoccupação do pão diario, o feroz conflicto da concorrencia, não permitem esses pachorrentos vagares, os vagares portuguezes ou hespanhóes, em que se está de barriga ao sol, prompto a olhar, a admirar o menor foguete que estala nos ares.

Em Inglaterra, o duque de Wellington era de certo popular — porque ganhou a batalha de Waterloo,