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CARTAS DE INGLATERRA
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santo, de Diocleciano, o perseguidor, e de Ben-Amon, o sanguinario — o nome de Sr. William Gladstone, o humanitario, o paladino das nacionalidades tyrannizadas, o apostolo da democracia christã. Mas se por um lado, evidentemente, a politica do snr. Gladstone não é um producto de pura ferocidade pessoal, como a de Caracalla, que fez arrasar Alexandria, porque um poeta d’essa cidade finmente dada ás letras o molestára n’um epigramma — por outro lado esta brusca aggressão de uma frota de doze couraçados, cidadellas de ferro fluctuando sobre as aguas, contra as decrepitas fortificações de Mehemet-Ali, este bombardeamento d’uma cidade egypcia, estando a Inglaterra em paz com o Egypto, parece-se singularmente com a politica primitiva do califa Omar ou dos imperadores persas, que consistia n’isto: — ser forte, cahir sobre o fraco, destruir vida e empolgar fazendas. D’onde se vê que isso a que se chama aqui a politica imperial d’Inglaterra, ou os interesses da Inglaterra no Oriente, póde levar um ministro christão a repetir os crimes d’um pirata mussulmano, e o snr. Gladstone, que é quasi um santo, a comportar-se pouco mais ou menos como Ben-Amon, que era inteiramente um monstro. Antes não ser ministro d’Inglaterra! E foi o que pensou o veneravel John Brigth, que, para não partilhar a cumplicidade d’esta brutal destruição d’uma cidade inoffensiva, deu a