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CARTAS DE INGLATERRA

e que o pobre fellah está pagando? Em primeiro logar, na realisação de uma idéa economica — o converter o Egypto, que é um paiz agricola, n’uma nação industrial. O Egypto produzia o assucar — porque o não refinaria? Possuia o algodão — porque o não teceria? E ahi começou, á força de milhões, a cobrir as margens do Nilo d’essas colossaes fabricas, de que hoje só restam ruinas; — ruinas de ferro enferrujado e de madeira podre, tão miseraveis e tão tristes, ao lado das bellas ruinas graniticas dos templos pharaonicos, representando, como ellas, a servidão de um povo, mas, pela sua fealdade, não podendo ao menos servir, como ellas, nem para assumpto de uma aquarella...

A outra causa da ruina do Khediva foi a sua prodigalidade. Quem não conhece essa lenda illustre? Quem se não lembra das festas do canal de Suez? Ahi cada verba se contou por milhões. Dois milhões para a illuminação do Cairo. Quatro milhões para o banquete de Ismailia. Despezas com os dois mil convidados durante quinze dias no Cairo e no Canal — setenta milhões!... Para o champagne bebido n’essas semanas de bambocha — dous milhões! O fellah pagava.

Eh! E eu que estou aqui a fallar — tambem o bebi, esse champagne que era no fundo o suor do fellah espumante e assucarado! Tambem eu fui hospede