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CARTAS DE INGLATERRA
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embainharão a espada antes de ter installado na cidadella do velho Cairo, ao som do God save the Queen, um governador inglez.

Evidentemente o snr. Gladstone falla apenas de restabelecer a ordem e restaurar o Khediva. Meras locuções diplomaticas. O Times, que é o verbo d’Inglaterra, esse falla, sem rebuço, em protectorado. E ha muitos inglezes, ainda menos reservados que o Times, que dizem redonda e seccamente — conquista.

Mesmo quando o snr. Gladstone, que é a seu modo um democrata dentro dos limites do Evangelho, e o seu illustre collega Lord Granville, que é um jurista e um diplomata, quizessem, em respeito ao liberalismo, á Europa, ao direito internacional e a outras cousas vagas, deixar o Egypto reorganisar-se a si mesmo — sahindo elles de lá com as mãos vasias, depois de terem supprimido Arabi e o seu turbulento partido — a Inglaterra inteira, em massa, protestaria contra este philosophico desinteresse...

Ha alguem ahi assaz ingenuo para suppôr que John Bull, essa torre de senso pratico, consentiria em que se lhe dizime o exercito, em que se lhe gaste o dinheiro como elle gasta a agua das fontes, em que se lhe augmente o income-tax — só para que o Khediva, esse amavel moço, continue a fumar o narghilé do poder sob as sombras dos jardins de Choubra? John Bull não ficará satisfeito senão com este