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CARTAS DE INGLATERRA

Em Coimbra, sempre que nos reuniamos mais de quatro amigos, faziamos logo esse projecto, gritando: — Viva a Polonia! Os jornaes transbordavam de poemas á Polonia e de injurias ao Urso do Norte! Empenhavam-se batinas e compendios para soccorrer a Polonia, em subscripções enthusiasticas. Em beneficio da Polonia eu representei muito melodrama em que ora, virgem trahida e vestida de branco, soluçava com as minhas tranças soltas — ora, traidor, soltando gargalhadas cynicas, cravava um ferro no peito de Condé!

Por fim não eramos mais insensatos do que o povo de Paris em 1848, marchando em procissão a reclamar do governo provisorio a libertação da Polonia. «Mas é uma guerra com a Russia, é um conflicto europeu!» diziam os prudentes. E os enthusiastas respondiam: «Não tem duvida; a França é o Messias, é a salvadora dos opprimidos: a França é o Christo das nações; sendo necessario, deve morrer por ellas.»

Mas desde 1848 muita agua tem passado sob as pontes, como dizem em Paris: e mesmo muito sangue.

Por estes tempos de opportunismo e de naturalismo, a pobre Irlanda não inspirará jámais o culto piedoso que votamos outr’ora á Polonia.

De resto a Polonia e a Irlanda constituem dois