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PREFÁCIO BIOGRÁFICO
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sos, os amigos de letras; ouça V. Majestade os bons, como melhores que são e mais dignos de serem ouvidos, e de serem criados dos príncipes, ouçam-se aqueles em cujo poder estou há seis anos. Mande-se V. Majestade de todos êles informar àcêrca de minha vida, ditos, e feitos: mande V. Majestade contar o número de meus amigos, e de meus inimigos.

¿ Que artificio será aquele que tanto saiba fingir ? ¿ que indústria a que de tantos se recate, e a todos engabe ?

¿ Não é, Senhor, mais próprio, mais prudente, e mais cristão discurso, entender que erram um ou dois primeiro que tantos ? ¿ que se enganam os poucos antes que os muitos ? ¿ E que podem fingir os inimigos aquilo que não podem fingir todos ?

Um ano inteiro estive preparado para haver de ir ao Brasil (como se entendia) : não foi V. Majestade servido que assim fôsse. E com me vêr ficar incertamente, haver gastado, e ter perdido o pouco que tinha de meu, nem por isso fiz a V. M. alguma lembrança, nem outra diligência : não se ouviu que eu neste caso me queixasse mais da minha fortuna.

Era obrigado a crêr e sem dúvida cria, que no real peito de V. Majestade, se tinha tornado comigo resolução justa, e conveniente.

Seria grave crime meu, se sabendo (como sei) se não esquecesse V. Majestade das verdades que aqui refiro, esperasse da sua real mão, menos que uma deliberação em tudo de V. Majestade, como tôda de V. M. há-de ser ; e eu por essa a hei-de seguir, e venerar.

À vista desta modéstia, e quando cuidava me entrava a clemência pelas portas, e o fim dos trabalhos