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PREFÁCIO BIOGRÁFICO

Espero, já que no estado próspero não pude obrar de sorte que deixasse de parecer digno de castigo, que no estado de minha miséria obre de maneira, que a todos pareça digno de lástima, e perdão.

Ocasiões passadas houve, em que muitas vezes ofereci a V. Majestade o sangue, e a vida, que é sua. E assim como aquele que deve lhe não é lícito escusar-se de pagar sua dívida, a quem e a onde lhe manda seu acredor; assim também ao bom vassalo, não é lícito escusar de dar sua vida na parte, e como lhe manda seu senhor.

Isto conheço ; Isto promulgo. Isto protesto fazer.


IV


As ilações mais relevantes que se colhem dêste Memorial são: 1.ª que um certo Francisco Cardoso fôra assassinado em vindita do adultério cometido com a mulher de um dos assassinos, ou, mais provàvelmente, do condenado a galés, por ter mandado os outros; 2.ª que algum dos réus depusera que D. Francisco Manuel de Melo comprara os assassinos de Francisco Cardoso ; 3.ª que o réu se defendeu com testemunhas do maior crédito, provando, ao mesmo tempo, que o assassinado havia sido amante da mulher de um cúmplice já condenado como tal.

Estas razões, ainda robustecidas com outras, não impediram que D. Francisco fôsse condenado, na segunda instância, em degrêdo perpétuo para a Índia, e 2:600 cruzados de custas.

Não se compreende tamanha iniquidade. Há um