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PREFÁCIO BIOGRÁFICO

desmentir o provérbio, e de tôda a gente, exceptuados os dois paladinos ; mas só um dêstes possuía o trama completo da aventura.

No entanto, D. Francisco Manuel, acirrado pelo ciúme, descurou as vigilâncias com que se houvera até à certeza de ser atraiçoado. As assiduidades descautelosas expuseram-o à espionagem de Francisco Cardoso, que, àquele tempo, havia sido galardoado com a mordomia da casa.

Teve o conde aviso da perfídia, e interrogou a condessa com a severidade prenúncia de alguma catástrofe. D. Mariana de Alencastre, ameaçada na vida, afastou de si D. Francisco Manuel, revelando-lhe que Francisco Cardoso os espreitava e deletara ao conde.

Êste Cardoso andava de amores adulterinos com uma Catarina de Enxobregas, mulher de um arrendatário de foros da casa de Vila Nova, chamado Marco Ribeiro. Sabedor de sua desonra, êste marido peitou três criados que mataram a ferro o mordomo do conde.

Os assassinos foram presos ; e, postos a tormento, declararam quem os mandara. Não obstante, o conde, comunicando o seu terceiro revés a el-rei, atribuiu a morte do seu fiel criado e amigo a D. Francisco Manuel, por sugestão da condessa, cujo crime o mordomo assassinado lhe denunciara. O rei não impugnou a hipótese, antes a robusteceu consentindo no mesmo alvitre. Postos novamente a torturas os assassinos, a dôr, e a insinuação dos inquiridores, arrancaram-lhes a calúnia que envolvia D. Francisco Manuel de Melo na cumplicidade. Prêso, processado e condenado, o inocente estava irremediàvelmente perdido.

Todavia, o conde, descontente com vingança tam apoucada em comparação das que já tinha de vêze,