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PREFÁCIO BIOGRÁFICO

muito de comprar, quando os houvesse ; mas estou mais para vender êstes que para comprar outros». [1]

As justiças zombavam dêle como de todos os encarcerados ; mas, com êste prêso, o escárnio era mais de quebrar ânimo e esperanças, por que era D. João IV quem escarnecia : «Agora me mandaram crêr que me querem soltar. O mesmo me prometeram a semana passada. Já não me entendo com palavras de príncipes. Pode ser que com a semana se passe a memória de promessa». [2]

Ao fim de dôze anos, D. Francisco Manuel de Melo saiu da célula penitenciária da Tôrre Velha para o destêrro, não a cumprir sentença lavrada no infame processo, senão a dessedentar a rancorosa sêde do rei. A pena de degrêdo para a África era assim comutada, sob color de indulto.

Saiu a vítima do inexorável devasso para o Brasil em 1655. No ano seguinte, morreu cá o rei, e desde logo o desterrado obteve licença de voltar á pátria. [3]


  1. Carta XCIII.
  2. Carta XXXI, da 3.ª Centúria.
  3. Camilo supõe que o regresso de D. Francisco Manuel do degrêdo do Brasil foi porque obteve licença de voltar à pátria, depois da morte de D. João IV em 1656. Sob a regência da rainha D. Luisa de Gusmão, que instigava o marido, continuou o degrêdo de D. Francisco Manuel de Melo, que por um impulso natural quebrantou o degrêdo em Março de 1658 e veio para Portugal, Só pela aclamação de D. Afonso VI, o seu ministro Castelo Melhor, por êsse título mandou passar-se-lhe alvará de reabilitação e perdão de quebrantamento do dengrêdo, em data de 30 de Julho de 1662, Tivemos a fortuna de achar êste documento na Chancelaria da Ordem de Cristo, que escapára às insistentes pesquizas de Prestage.

    Por esta reabilitação social é que se explíca a missão de que foi encarregado D. Francisco Manuel em 1663 de