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PRÓLOGO
IX

foram impressos pela primeira vez na edição francesa de 1690. «O nome daquele a quem foram enviadas estas Cartas é o cavalheiro de Chamilly, e o nome de quem lhe fez a tradução é Guilleragues.» E a autora? Quem escrevera com sangue e com lágrimas essas Cartas eternas? Até 1810 sabe-se apenas que se chamava Mariana… É então que o ilustre Boissonade (a quem devemos a versão do «Hissope»), descobre num exemplar da edição original das Cartas uma nota escrita por mão contemporânea, dizendo o nome completo da extraordinária amorosa: — Mariana Alcoforado.

Pois bem: só em 1888 Luciano Cordeiro documentou a existência de Mariana. É certo que antes dêle Felner, Juromenha e depois Pinheiro Chagas tentaram documentar a existência em Beja, da grande apaixonada; mas nada puderam concluir das suas investigações. Não havia documentos. Só uma lenda esvoaçava vagamente, semelhante a alguma réstia de luar triste sôbre um túmulo quimérico…

O problema, com efeito, dificilmente se podia desenredar. Dada a influência e representação da família Alcoforado no século XVII, era natural que se tentasse apagar o nome de Mariana de tudo o que mais ou menos evocasse êsse episódio ardente dos seus amores. Nas pesquizas a que procedeu, Luciano Cordeiro «sentiu positivamente mão desconhecida, que tivesse andado a apagar a memoria de Mariana»; o caso religioso também impunha reservas; as crónicas monásticas não se alargam em comentários mundanais; um ou outro arquivo importante conservava-se fechado a sete chaves ou de há muito esfarrapado e disperso… Uma agulha em palheiro!

No entanto, não havia dúvidas: as Cartas haviam