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PRÓLOGO

sido dirigidas a Chamilly. Além da edição de 1690, contemporâneos ilustres categòricamente o afirmavam, como Saint-Simon e Duclos — apesar do sr. Beauvois, publicista de Beaune, vir, dois séculos depois, dizer que não: as Cartas, segundo êsse homem singular, não podiam ter sido endereçadas ao futuro marquês e marechal de França, de quem faz o panegírico como militar e católico, e a quem considera incapaz de seduzir uma religiosa. É claro que é delicioso êste sr. Beauvois.

Consoante pensa, as Cartas deviam ter sido escritas em francês, para gáudio dum editor esperto. Acha que elas são «un parfait secrétaire des amants…» Aqui resvala em tolo.

Luciano Cordeiro atura-o, e discute esmagadoramente com o piedoso paladino do capitão de cavalos. Tempo bem empregado!

Sousa Botelho (Morgado de Mateus), que em 1821 fez em Paris a retroversão das «Cartas portuguesas», como Filinto Elísio fizera cinco anos antes, mas misturando as autênticas e as apócrifas, Sousa Botelho afirma: — «Um português, ou seja quem fôr que conheça bem esta língua, não poderá duvidar de que as Cinco Cartas da Religiosa tenham sido traduzidas quási literalmente dum original português. A construção de muitas frases é tal, que retraduzindo-as palavra a palavra em português, encontrar-se hão inteiramente no génio e no carácter desta língua.» O sr. dr. Teófilo Braga é do mesmo alvitre.

Por cá havia uma ou outra opinião ilustre de que as Cartas houvessem sido originalmente escritas em francês. Camilo Castelo Branco diz: — O torneio, a índole e a contextura da frase rescendem as olorosas meiguices do género epistolar francês.» A isto responde com razão