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PRÓLOGO
XI

Luciano Cordeiro: — «Que nos perdôe o grande escritor, nosso mestre e amigo, mas é exactamente a isso que nos parece, e tem parecido a muitos, pudéramos dizer que a todos, que elas nem longínquamente rescendem.» Evidentemente Camilo não se tinha dado à canseira de estudar o caso. Elas são tam vivas e humanas, que a nenhum outro escrito poderemos aplicar com mais justeza aquele admirável dizer de Emerson: «Cortai-lhe as palavras: de tal maneira são vasculares e vivas, que elas deitarão sangue…»

Tudo leva a crer que a tradução francesa (ou talvez uma revisão definitiva sôbre uma versão do próprio Chamilly) fôsse feita por Guilleragues. O abade Mercier de Saint-Léger, na edição das «Cartas portuguesas» de Delance de 1776, atribue a versão a Subligny, «advogado segundo uns, actor segundo outros, pai da menina Subligny, famosa dançarina da Ópera, o qual, além de outros trabalhos, escreveu em 1668 uma comédia critica contra a célebre tragédia «Andrómaca», de Racine.» Ora tôdas as ediçdes que indicam o tradutor chamam-lhe Guilleragues. Não seria Subligny o auctor das «Lettres de la Dame portugaise» e das primeiras Respostas? pergunta Eugénio Asse.

«Lavergne de Guilleragues, ou o conde Lavergne de Guilleragues, era um gentil-homem gascão, secretário da câmara e do gabinete do rei, relacionado com Racine, Boileau, a senhora Sévigné, etc., e, segundo Saint-Simon, «glotão, agradável, com muito espírito, fazendo excelente companhia, tendo muilos amigos, e vivendio à custa dêles; porque tudo esbanjára.»