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CARTA DE GUIA DE CASADOS
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escutei como da bôca de un sábio : Traga o marido, e guarde a mulher.

Mulher ciosa, é bem ocasionada mulher para que se viva sem contentamento. Dizia uma de bom juízo : A mulher ciosa tende a ociosa. Queria dizer, não lhe deis causa, que ela a não tomará. Esta não vinha em distinguir a queixa do ciúme ; porque aquela que com razão se sente, não chamo eu ciosa. A ciosa é aquela que sem causa se queixa ; e estas são as trabalhosas. Porque emendar cada um as suas fraquezas, sôbre que é dificultoso, não é impossível ; mas emendar as alheias não é dificultoso, porque é impossível.

Contra as ciosas sem razão, o melhor remédio é que elas a não tenham ; porque assim se segura a consciência, e a honra. Contra as ciosas com razão, curando-se o marido da leviandade, fica a mulher curada do ciúme. Para desconfianças leves, que um discreto chamava sarna do amor, que faz doer, e gostar juntamente, digo eu, que como se satisfizeram as damas, se satisfarão as espôsas. Aquele amor desordenado, mais furioso é, e assim mais veementes seus ciúmes (como é do melhor vinho o melhor vinagre). Quem soube (que todos souberam) desmentir os ciúmes de sua dama, quando a teve, por êsse mesmo modo desminta os de sua mulher, quando a tenha.

Eis-aqui vem as gastadoras, fogo perenal das casas, e das famílias. Sempre foi causa de muitos males esta tal condição ; porque lá tem suas côres de cousa bôa ; e sobretudo é mui aceita. Digo, senhor N., com verdade, que me parece deve uma mulher honrada tratar o dinheiro com aquele mesmo temor que ao ferro e fogo, outras cousas de que convêm sejam medrosas. Parece o dinheiro em mãos da mulher arma imprópria, Per-