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CANTA DE GUIA DE CASADOS
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VIII


Maneira de conservar a bondade das que são boas


Tendo, senhor meu, mostrado a v. mn. assim umas sombras dos perigos, e inconvenientes, que causar as mulheres com algumas de suas imperfeições, hei como dito a v. in. os descansos, os contentamentos, que trazem consigo as boas. Eles são tantos, que na verdade se não poder dizer.

Não há na eloquência louvor que não venha estreito para a mnther honrada. Assim a deve de tratar seu marido como penhor celestial.

Para a conservação desta honra, e desta mulher, em que ela tanto estriba, irei assim apontando a v. mn. algumas cousas, as quais não servem aprendidas, senão usadas, e usadas muitas vezes. Bem se vê que não basta prantar a murta no jardim, por de melhor casta que ela seja, para que a adorne, faça figuras, e lavores agradáveis; è necessário torcer-lhe às vezes os raminhos, e outras cortar-lhe as vergonteas; e contudo nada aprovelta, se perpètuamente o jardineiro a não toza, a cultiva, porque veceja muito.

Fuja-se, como de peste, de repartir casa, e receber criados com distinção, tais para o senhor, e tais para a senhora. Se o casamento é união, & de que serve dividi-lo? Este ponto é mais proveltoso à advertência, que agradável à especulação. Daqui vem, que nem lhe fujo, nem a persigo. Tem-se hoje por grandeza lavrar quartos, e apo