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CARTA DE GUIA DE CASADOS
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rasa. Digamos alguma cousa da mulher; e depois apontaremos como deve usar de tudo.


X


A exposa


Meu ânimo (segundo já deixo dito) não foi aconselhar como deve casar-se; que o acerto de v. m. me livrou désse trabalho; podendo por ésse exemplo aconselhar a todos como era bem que casassem; se forem tão venturosos que assim possam.

Para o que já casou, e supomos bem casado, é que ajuntamos aqui estas advertências.

Perguntou alguém, algumas vezes, se seria lícito deixar usar a mulher própria daquelas boas partes de que a dotou a natureza; como o cantar, o dançar, e ainda. o fazer.versos, e outras semelhantes prerrogativas, que em algumas se acham, e em muitas pudera haver, se o receio as não suprimisse.

Certamente, que se v. m. me fizera esta pergunta, me vira eu em grande enleio; porque o aniquilar em qualquer pessoa as perfeições que Deus the deu, impiedade parece; fazer-lhas exercitar naqueles limites que a prudência requer, parece impossível.

Dizia a este propósito a princesa de Roca-Sorion em França, que foi discretissima, e não bem casada: Que das très potências com que entrara em poder de seu marido, duas lhe tomara éle, e lhe deixára uma só, que ela the dera bem fàcilmente. Porque nem a potên-