Página:Cartas de amor ao cavaleiro de Chamilly.pdf/25

PRÓLOGO
XXI

péro que me causas, e detesto a tranqüilidade em que vivi antes de conhecer-te».

Estas palavras podem servir de tema a uns versos que escrevemos há tempos, e que vem a proposito reproduzir:

 

Aos setenta anos, entre as religiosas,
Sóror Mariana evoca o seu passado.
Aves presas e lindas, a seu lado
As freiras palram, riem buliçosas.

Tal quem remexe em cartas amorosas
E ainda sente um perfume evaporado;
Ou nas cinzas dum lume sopitado
E as brasas abrem 'num florir de rosas;

Sóror Mariana aviva a calentura
Dessa paixão que lhe alumiou cavernas,
E deu a tudo um vago amor de mãe…

«Amar na terra é amar a Deus na altura!
(Consigo diz) «Ó lágrimas eternas,
Quem fôra eu sem êsse amor. Ninguém!»

 

Com efeito, das grades dêsse convento da Conceição, só talvez ela pôde pressentir o mistério profundo das cousas. A dôr e o amor são as lanternas encantadas que iluminam a Vida.


JÚLIO BRANDÃO.