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CARTAS DE AMOR
 


I


Considera, meu Amor, quam excessivo foi o teu descuido de prever o que havia de suceder-nos!

Ah, infeliz! foste enganado, e me traíste, por lisonjeiras esperanças mentirosas.

Uma afeição sôbre que tinhas fundado tantos projectos deleitosos, e da qual te prometias infinito prazer, põe-te agora numa desesperação mortal, sómente comparável em crueldade à da ausência, que é dela causa.

E há-de esta ausência, para a qual ainda a minha dôr, por mais engenhosa que seja, não soube achar nome assaz funesto, ¿há-de ela privar-me de contemplar aqueles olhos em que divizava tanto amor, e que me faziam conhecer afectos, que enchiam meu peito de alegria, que eram tudo para mim, tudo supriam, e enfim me satisfaziam?

Ai de mim! os meus ficaram privados da única luz