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CARTAS DE AMOR

Resisto a tôdas as aparências que deveriam persuadir-se de que mui pouco amor me tens e sinto maior propensão a abandonar-me cegamente à minha paixão, do que às razões que me ofereces para queixar-me da tua falta de atenção e cuidado.

Quantas inquietações me terias poupado se o teu procedimento fôsse tam remisso e lânguido nos primeiros dias que te vi, como me parece agora, e desde algum tempo!…

¿Mas quem não deixaria enganar-se como eu, por tantos desvêlos, e a quem não pareceriam êles sinceros?…

Quanto custa resolver-nos a suspeitar longamente da bôa fé daqueles que amâmos!…

Vejo muito bem que a menor desculpa te satisfaz, e antes que tu atendas a dar-mas, o amor que tenho por ti serve-te com tanta fidelidade, que não posso consentir em descobrir-te culpas, senão para gozar do sensível prazer de justificar-te eu mesma!

Consumiste-me com as tuas assíduas perseveranças, inflamaste-me com os teus transportes, encantaste-me com as tuas finezas, asseguraste-me com os teus juramentos, a minha inclinação violenta seduziu-me, e as conseqüências dêstes começos tam agradáveis e tam venturosos não são mais do que lágrimas, gemidos, e uma funesta morte, sem que possa achar-lhe algum remédio!

Verdade é que, amando-te, gozei deleitações maravilhosas, mas custam-me hoje penas extraordinárias!…

Tôdas as comoções que me causas são extremas…

Se eu tivesse resistido ao teu amor, se te houvesse dado qualquer motivo de enfado e de ciúme, para mais inflamar-te; — se tivesses notado no meu proceder al-