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CARTAS DE AMOR

outra mulher te comoveram mais do que te comoveram os meus favores…

¿Será possível que maus tratos tenham a eficácia de incender-te?

Reflecte, porém, antes de enlear-te em uma grande paixão, e atende o excesso das minhas dolorosas aflições, a incerteza de todos meus projectos, a diversidade das agitações de minha alma, a extravagância das minhas cartas, as minhas confianças, as minhas desespeções, os meus anelantes desejos, os meus ciúmes…

Ah! guarda-te da infelicidade que te espera…

Conjuro-te de tirar proveito do estado em que eu cai, para que, ao menos, o que sofro por ti não te seja inútil.

Haverá cinco ou seis meses fizeste-me uma confidência molesta, confessando-me, com demasiada sinceridade, que tinhas amado uma dama no teu país…

Se é ela quem te impede de voltar aqui, dize-mo sem disfarce, para que cesse de finar-me lentamente.

Algum resto de esperança sustenta-me ainda; mas se êste deve ser frustado, estimaria mais perdê-la inteiramente, e perder-me com ela…

Manda-me o seu retrato, e algumas das suas cartas.

Escreve-me tudo o que ela te diz.

Talvez descobrirei motivos de consolar-me, ou de ainda mais afligir-me.

Não posso aturar por mais tempo êste trabalhoso estado em que permaneço: tôda mudança me será favorável…

Quisera também possuir o de teu irmão, e o de tua cunhada.

Tudo que te pertence me é por extremo caro; e sou perfeitamente devota a tudo que te diz respeito.