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CARTAS DE AMOR

as damas que amam sempre distraídas por mil bagatélas, e que é preciso ter bem pouca delicadeza para sofrer, sem uma desesperada impaciência, que elas falem tam sòmente de assembleias, atavios, e passeios…

Êles estão expostos incessantemente a novos ciúmes, sendo elas obrigadas a obsequiosas atenções, a complacências e conversações infinitas.

¿Quem pode assegurar-se de que em tôdas estas ocasiões não sentem algum deleite, e de que suportam sempre todos os deveres de seu estado com extremo enôjo e nenhum consentimento?…

Ah! quanto devem elas desconfiar de um amante que lhes não pede contas bem exactas de tudo, que acredita fàcilmente, sem inquietação, quanto elas lhe dizem, e que com muita confiança e tranqüilidade as vê sujeitas a tôdas estas obrigações!

Mas não pretendo provar-te com bôas razões que devias amar-me. Êstes meios são péssimos, e outros muito melhores empreguei eu, que me não aproveitaram.

Conheço demasiadamente qual é a força do meu destino, para diligenciar superá-lo…

Hei-de ser infeliz tôda a minha vida!…

¿Não o era eu quando te via todos os dias?

Morria de susto de que não me fôsses fiel.

Queria ver-te a cada instante, o que não era possível.

Perturbava-me o perigo a que te arriscavas, entrando neste convento…

Não vivia quando estavas no exército.

Desesperava por não ter mais formusura, e ser mais digna de ti.