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CARTAS LITTERARIAS

Essa nem ao menos encontra quem lhe chore o triste fado. Vive p’r’ahi, misera viuva, perpetuamente em crépe, num abandono pungente, coberta de desprezo e de ridiculo, apupada mesmo pela malandrice audaciosa e irreverente...

Vejam o indice litterario de 1893. A’ parte um ou outro phenomeno isolado, um ou outro caso esporádico interessante e digno de estudo, o quadro é sempre o mesmo, invariavelmente sombrio e desolador. Nem que fossemos um longinquo paiz do centro d’Africa, terra de cafres, onde nem sequer chegasse a voz dos prélos.

Não falemos, por Deus, na praga tremenda de poetas e borradores, que nos ameaçam quasi quotidianamente, como um verdadeiro castigo do céo: ingênuos té ao lyrismo pulha e serodio, elles surgem aos magotes e desaparecem com a mesma facilidade, sem deixar o mais leve traço da sua passagem vertiginosa.

Falemos, sim, dos que entram no maravilhoso templo da Arte com o respeito e a convicção de sacerdotes impollutos. Diminutissimo é o numero destes. Magra estatistica onde se reflecte, tal como é, a nossa indole—meio cabocla, meio aryana — preguiçosa e mórbida.

Preferimos a suave palestra, descuidada e livre, do becco do Ouvidor, ao penoso trabalho de gabinete, monotono e esfalfante, que produz sábios e loucos, litteratos e tuberculosos. Talvez tenhamos razão. E é por isso mesmo que a velha Europa, que nos vê