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E nem que o revelasse, o vulgo não põe fé
Nas tristes commoções da verde mocidade,
E responde sorrindo á cruel realidade.

Não assim tu, ó alma, ó coração amigo;
Nú, como a consciencia, abro-me aqui comtigo;
Tu que corres, como eu, na vereda fatal
Em busca do mesmo alvo e do mesmo ideal.
Deixemos que ella ria, a turba ignara e vã;
Nossas almas a sós, como irmã junto a irmã,
Em santa communhão, sem carcere, sem veus,
Conversarão no espaço e mais perto de Deus.

Deus quando abre ao poeta as portas desta vida
Não lhe depara o gozo e a gloria apetecida;
Tarja de luto a folha em que lhe deixa escriptas
A suprema saudade e as dores infinitas.
Alma errante e perdida em um fatal desterro,
Neste primeiro e fundo e triste limbo do erro,
Chora a patria celeste, o fóco, o centro, a luz,
Onde o anjo da morte, ou da vida, o conduz
No dia festival do grande livramento;
Antes disso, a tristeza, o sombrio tormento,
O torvo azar, e mais, a torva solidão,