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Nem vence o positivo o frivolo ideal;
Despotica em seu mando, é sempre fatua e vã,
E até da vã loucura a moda é prima-irmã:
Mas quando venha o senso erguer-lhe os densos véus,
Do verso alexandrino ha de livrar-nos Deus.

Deus quando abre ao poeta ás portas desta vida,
Não lhe depara o gozo e a gloria appetecida;
E o triste, se morreu, deixando mal escriptas
Em verso alexandrino historias infinitas,
Vai ter lá n'outra vida insipido desterro,
Se Deus, por compaixão, não dá perdão ao erro;
Fechado em quarto escuro, á noite não tem luz,
E se é cá do meu gosto o guarda que o conduz,
Debalde, immerso em pranto, implora o livramento;
Não torna a ser, aqui, das Musas o tormento;
Castigo alexandrino, eterna solidão,
Terá lá no desterro, em premio da illusão;
Verá queimar, á noite, as rosas esfolhadas,
Que a moda lhe offertára, e trouxe tão cuidadas,
E ao pé do fogo intenso, ardendo em cruas dôres,
Verá que versos taes são galhos, não dão flores;
Que, lendo-os a pedido, a creatura santa,
A paciencia lhe foge, a fé se lhe quebranta,