- 73 -

Se vai d'um verso ao fim; depois... treme... vacilla...
Dormindo, cahe no chão; mais tarde, já tranquilla,
Sonha com verso-verso, e as illusões floridas,
Risonhas, vem mostrar-lhe as largas avenidas
Que o longo verso-prosa occulta, do porvir!
Sonhando, ao menos, póde amar, gozar, sentir,
Que um somno alexandrino a deixa ali em paz,
Dormir... dormir... dormir... erguer-se, emfim, vivaz,
Bradando: «Chloroformio! O genio que te poz,;
A palma cede ao metro esguio, teu algoz!»

E aspiras, vate, assim, da gloria ao ideal?
Triste e funesto afan!... tentativa fatal!
Nesta sede de luz, nesta fome d'amor,
O poeta corre a estrella, á brisa, ao mar, á flor;
Quer ver-lhe a luz na luz da estreita peregrina,
Quer-lhe o aroma sentir na rosa da campina,
Na brisa o doce alento, a voz na voz do mar;
Ó inutil esforço! Ó improbo lutar!
Em vez da luz, do aroma, ou do alento, ou da voz,
O verso alexandrino, o impassivel algoz!...

Não cantas a tristeza, e menos a ventura;
Que em vez do sabiá gemendo na espessura,
Imitarás, no canto, o grillo atraz do lar;

7