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Presa uma vez da ira dos tyranos,
        Os membros retelhou-te
Dos senhores a explendida cobiça;
Em proveito dos reis a terra livre
Foi repartida, e os filhos teus — escravos -
Viram descer um véu de luto á patria
E apagar-se na historia a gloria tua.

À gloria, não! — É gloria o captiveiro
Quando a captiva, como tu, não perde
A alliança de Deus, a fé que alenta,
E essa união universal e muda
Que faz commuuns a dôr, o odio, a esperança.

Um dia, quando o calix da amargura,
Martyr, até ás fezes esgotaste,
Longo tremor correu as fibras tuas;
Em teu ventre de mãi, a liberdade
Parecia-soltar esse vagido
Que faz rever o céu no olhar materno;
Teu coração estremeceu; teus labios
Tremulos de anciedade e de esperança,
Buscaram aspirar a longos tragos
A vida nova nas celestes auras.