Cidades mortas

A quem em nossa terra percorrer taes e taes zonas, vivas outr'ora, hoje mortas, ou em via disso, tolhidas de insanavel cachexia, uma verdade que é um desconsolo resurte do montão de ruínas: o progresso no Brasil é nomade, e sujeito a paralysias subitas. Radica-se mal. Conjugado a um grupo de factores, sempre os mesmos, reflue com elles de uma região para outra. Não emitte peão. É um progresso de cigano — vive acampado. Emigra, deixando atrás de si um rastilho de taperas.

Um dos factores que o arrastam comsigo é a uberdade nativa do solo. Mal esta se esvae, pela reiterada sucção de uma seiva não recomposta, como no velho mundo, pelo adubo, o desenvolvimento da zona esmorece, foge della o capital e com elle os homens fortes, aptos para o trabalho. E lentamente cae a tapera nas almas e nas coisas.

Nosso povo não vinga prosperar sinão onde uma vitalidade prodigiosa poreja da terra virgem como o bafo quente da rez carneada de fresco.

Em sendo mister luctar contra a avareza crescente do solo, refazer-lhe a feracidade anemiada, o homem fraqueja, coça a cabeça e, ou emigra, ou tomba em modorra, para logo atolar na miseria.

Em nosso Estado exemplo perfeito ha disso na depressão profunda que entorpece o chamado Norte.

Alli tudo foi, nada é. Não se conjugam verbos no presente. Tudo é preterito.

Um grupo de cidades moribundas arrastam um viver decrepito, gasto em chorar na mesquinhez de hoje as saudosas grandezas de outróra.

Pelas ruas ermas, onde o transeunte é raro, não matracoleja siquer uma carroça; de ha muito, em materia de rodas, se voltou ao rodisio massiço desse rechinante symbolo do ronceirismo colonial que é o carro de boi. Erguem-se nellas soberbos casarões apalaçados, de um e dois andares, solidos, como mosteiros, tudo pedra; cal e cabiúna; casarões que lembram ossaturas de megaterios d'onde as carnes, o sangue, a vida para sempre desertaram.

Vivem dentro, mesquinhamente,