CINCO MINUTOS
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para arrostar vinte vezes a morte?

Algumas braças d’agua e uma pequena distancia me retinham e me encadeavam n’aquelle lugar como á um poste; a falta de um remo, isto é, de tres palmos de madeira, creava para mim o impossivel; um circulo de ferro me cingia, e para quebrar essa prisão, contra a qual toda a minha razão era impotente, bastava-me que fosse um ente irracional.

A gaivota, que frisava as ondas com a ponta de suas azas brancas; o peixe, que fazia scintillar um momento seu dorso de escamas á luz das estrellas; o insecto, que vivia no seio das aguas e plantas marinhas, eram reis d’essa solidão, na qual o homem não podia siquer dar um passo.

Assim, blasphemando contra Deos e sua obra, sem saber o que fazia nem o que pensava, entreguei-me á Providencia; embrulhei-me no meu capote,