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VI

tambem cantos populares publicados na Romania de M. Gaston Paris e Paul Meyer (vol. III) e na Zeitschrift für romanische Literatur do snr. G. Gröber (1879) e varias lendas e outros contos que serão publicados em parte, pelo menos, n'essas duas revistas. A snr.ª Alves Leite só por si nos forneceu materia d'um bom volume. Os contos que tem a subscripção Coimbra foram-nos enviados por uma de nossas irmãs. Os contos que tem a subscripção Foz do Douro foram-nos dictadas por mulheres analphabetas da localidade; as de Oliveira do Douro por uma snr.ª Luiza, lavadeira; o de Villa Nova por um barqueiro; o n.º XXXIII, de Bragança, foi-nos enviada pelo nosso amigo B. M. de Sá que o ouvira a uma pessoa d'aquella cidade e o reproduziu depois de memoria; o n.º XXXII foi ouvido por um outro amigo nosso d'um mercieiro, poeta popular, d'Espadanedo (Douro); os n.os LX-LXVI foram-nos offerecidos com uma consideravel e interessante collecção pelo nosso amigo e collega Z. Consiglieri Pedroso: esses, com excepção do ultimo (LXVI) que lhe enviaram de Coimbra onde é muito popular e o ouvimos contar numerosas vezes quasi sempre na mesma fórma, foram ouvidos pelo nosso amigo de pessoas do povo.

Nos contos que recebemos escriptos notar-se-hão algumas fórmas litterarias, mas preferimos dal-os como nol-os offerecem a imprimir-lhes um caracter mais popular. É mister ter tambem em vista que entre nós ha muito menor distincção entre a linguagem popular e a litteraría que n'outros paizes. As pessoas do povo intelligentes são geralmente bem fallantes e empregam muitas expressões d'origem litteraría evidente, sem saberem ler.

Os contos que hoje publicamos não teem todos egual valor, mas offerecem todos mais ou menos interesse sob o ponto de vista tradicional. Em regra, pode considerar-se a tradição dos contos entre nós como assaz obliterada; falta-lhes vida, poesia, muitas vezes reherencia; muitas feições significativas em versões d'outros