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ás outras filhas, queria ao menos levar a flor; mas se a quereis ella ahi fica.» «Não, levae-a e se me trouxerdes cá essa filha, ficaes ricos.» O homem caminhou e chegou a casa muito apaixonado por não trazer nada ás outras filhas e não achar as navegações e pegou na flor e deu-a á Bella-menina.

A filha assim que viu a flor disse: «Oh que bella flor! aonde a achou meu pae?» O pae contou-lhe o que vira e a filha disse: «Oh meu pae eu quero ir ver.» «Olha que o bicho falla e disse tambem que te queria ver.» «Pois vamos.» E foram. A filha assim que viu o tal bicho disse: «Oh pae eu quero cá ficar com este bicho, que elle é muito bonito.» O pae teve a sua penna, mas deixou-a. Passado algum tempo, ella disse: «Oh meu bichinho! tu não me deixas ir ver os meus paes?» E elle disse-lhe. «Não; tu não vaes lá por ora; teu pae vem cá.» O pae veiu e disse ao bicho: «Eu queria levar a rapariga.» «Não me leves d’aqui a rapariga, senão eu morro e tu vae ali áquella porta e abre-a e leva d’alli a riqueza que tu quizeres e casa as tuas filhas.» O homem que mais quis?

Um dia o bicho disse á Bella-menina: «A tua irmã mais velha lá vem de se receber; tu queres vel-a?» «Quero.» «Vae ali e abre aquella porta.» Ella foi e viu vir a irmã com o noivo e os paes. «Agora deixa-me ir ver o meu cunhado.» «Eu deixava, deixava; mas tu não tornas.» «Torno; dá-me só tres dias que eu em dia e meio chego lá e torno cá n’outro dia e meio.» «Se não vieres n’estes tres dias, quando voltares achas-me morto.» Ella foi; no fim dos tres dias ella veiu, mas tardou mais um pouquito que os tres dias; ella foi ao jardim e viu-o deitado como morto. Chegou ao pé d’elle: «Ai meu bichinho!» e começou a chorar. Elle caiu e ella disse: «Coitadinho está morto; vou dar-lhe um beijinho.» e deu-lhe um beijo, mas o bicho fez-se n’um bello rapaz. Era um principe encantado que ali estava e que casou com ela.

(Ourilhe.)