Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/115

— 79 —

deu: «Nada me deveis.» Ella então abriu um cofre que tinha, todo d'ouro e pedras ricas, cheio de joias de prata e d'oiro e de tudo que havia de riqueza e lhe disse: «Tomae d'ahi o que quizerdes;» elle viu um punhal de cabo de marfim, todo cravejado de brilhantes e foi isto que tomou. Estava para se ir em boa paz quando entrou o rei que vendo alli no quarto da rainha um desconhecido tirou da espada para o matar e elle defendeu-se com o punhal. O rei cresceu para elle e este deu-lhe uma punhalada que o fez cair redondo ao chão. A rainha e a aia principiaram de gritar; accudiu toda a gente de palacio. Logo que viram o rei cheio de sangue, prenderam o criminoso e o rei mandou-o logo alli despir e açoitar. Despiram-n'o da cinta para cima e já lhe tinham dado muitos açoites quando a rainha disse: «Não batais mais; este signal que elle tem nas costas é o signal que o meu filho tinha. «Perguntem quem é o pae d'este homem já» disse o rei. Correram por toda parte quando depois de dois dias veio um creado com o moleiro que contou o succedido e «para prova ainda aqui trago o caixão.» Desembrulhou e o rei disse então que elle era seu filho e morreu. Elle ficou governando o reino de seu pae até que de tanto chorar cegou. Procuraram-se remedios e medicos por toda a parte e nada lhe dava vista. Foram a uma fada e ella disse que só quem fosse muito longe buscar a baba do passarinho azul que estava empoleirada na arvore mais alta do mundo; que havia de ser virgem e filha de reis. Foram lá muitas virgens, mas o passarinho voava, até que Isabel lembrou-se d'ir tambem; foi e logo que chegou ao sitio viu o passarinho e subiu á arvore, e elle deixou-se pilhar e tirar a baba d'um baldinho que trazia dependurado ao pescoço. Trouxe Isabel a baba a palacio e untou com ella os olhos do rei e elle logo viu. Casou com ella e houve bodas que duraram muitos dias. Viveram sempre muito felizes e acabou.


(Espadanedo.)