Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/123

— 87 —

— Abençoada sejas tu; quando tu fallares perolas finas botes tu pela bocca fóra.

A rapariga, já se sabe, ia fallando pelo caminho e iam-lhe caindo perolas muito ricas pela bocca fóra e ella ia-as colhendo no avental.

Chegou a casa com a meada fiada e a mãe ficou muito contente com as perolas e perguntou-lhe o que aquillo tinha sido; ella contou-lh'o e a mãe mandou lá a filha a ver se lhe succedia o mesmo. A filha foi, procurou a mulherzinha e disse-lhe:

— Oh mulher! quer que eu lhe leve um cantaro d'agua?

— Pois sim; vae por elle.

Ella foi, mas chegou á porta da cozinha e quebrou o cantaro e ella disse:

— Amaldiçoada sejas; saramagos lances tu por a boca fóra quando fallares, já que me quebrastes o meu cantarinho.

A rapariga chegou a casa e quando fallava deitava saramagos pela bocca fóra.

Soube-se que havia a rapariga que lançava as perolas pela bocca fóra e houve muito quem quizesse casar com ella. Ajustou-se casamento com um rapaz e os paes combinaram que se havia de esconder a engeitada e apresentar a filha com as perolas da outra na aba e dizer que ella era muda.

Fez-se o casamento e quando iam para a egreja ia uma voz em par do noivo e dizia:

«Perola fina fica na cuba
E o saramago vae na burra.»

Porque a engeitada tinha sido mettida n'uma cuba e a noiva ia n'uma burra. Depois o noivo disse:

— Eu volto para traz que vou muito encommodado e receio deixar a menina viuva, se melhorar casaremos amanhã.

Ao outro dia vae lá a casa com a justiça e lá acha-