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sas. As mulheres deram todas muito dinheiro ao rapaz e elle tirou-lhe algumas telhas dos telhados, e logo ellas viram o sol dentro das suas casas. Partiu o rapaz para outra terra, já muito admirado do que tinha visto, quando se lhe depara uma mulher que estava enfeitando uma porca com muitos cordões de ouro, fitas e flores; e perguntou-lhe: «Para onde quereis mandar esse animal, que estaes enfeitando?» Ao que a mulher respondeu: «Saiba vocemecê que eu sou viuva, e que o meu homem fazia hoje annos, e por isso quero ver se encontro um portador para o paraiso, para lhe mandar esta porca, e esta bolsa de dinheiro.» Respondeu o rapaz: «Nunca vocemecê fallou mais a tempo, pois para o paraiso é que eu vou.» A mulher entregou-lhe a porca e o dinheiro. O rapaz já não cabia em si de contente com tanto dinheiro que levava, e convencido que no mundo já não havia gente de juizo, resolvia-se a voltar a casa da sua noiva. No caminho, porém, deteve-se por causa de muitos gritos, de ai, quem me acode! quem me acode! que ouviu e tendo-se aproximado do sitio d'onde partiam os gritos viu muitos homens deitados uns sobre os outros, e perguntou-lhes: «O que estão ai a gritar? por que não se levantam?» Elles responderam: «Estamos aqui ha tres dias sem nos podermos levantar, pois não sabemos quaes são as pernas de cada um.» Respondeu-lhe o rapaz, que ia já fazer com que elles se levantassem, mas que lhe haviam de dar muito dinheiro. Elles logo disseram que todos lhe havim de pagar muito bem. O rapaz pegou então n'um cajado e começou a bater nas pernas dos homens, e elles poseram-se a gritar: «Ai, ai, as minhas pernas!» e começaram todos a levantar-se. Depois deram muito dinheiro ao rapaz, e elle lá voltou muito rico para casa da sua noiva, e mandou tirar a machadinha da adega; e viveu sempre muito feliz.