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Ai, conde de Paris! conde de Paris!

Responde o preto:

«Porque o não quiz?»

Foram mais adeante, e a princeza disse que tinha sêde, e o preto respondeu que ali só havia agua de um lameiro. A princeza bebeu, e tornou a repetir:

«Ai, conde de Paris!»

E o preto respondeu:

«Porque o não quiz?»

Mais adeante disse o preto á princeza, que tencionava ir vêr se o conde de Paris os queria admittir ao seu serviço, quando mais não fosse ao menos na cavalhariça. Chegaram ao palacio do conde, e mandaram-nos recolher em um palheiro, e o preto deixou a princeza só, e voltou muito tarde trazendo uma tassa grossa cheia de papas, e disse á princeza que com muito custo as arranjára. Então a princeza perguntou com que as havia de comer, e elle disse-lhe que com a mão, e como não podia esperar pela tassa, que as deitava na palha, e que as comesse ella de lá. A princeza como tinha muita fome comeu como poude. Ao outro dia, foi o preto dizer-lhe que como era preciso que ella se empregasse em alguma coisa, que fosse ajudar amassar o pão; mas que visse em todo o caso se roubava alguma farinha pois aquella gente não lhe davam comer que lhe apagasse a fome. A princeza, com muito custo, roubou a farinha, mas não tinha remedio senão obedecer ao preto. Depois d'isto appareceu o conde de Paris muito bem vestido, e disse que era preciso revistar as mulheres para que não roubassem ellas alguma farinha. Como encontrasse a farinha á princesa, pozeram-n'a na rua com grande vergonha d'ella e mandaram-n'a outra vez para o palheiro. Foi o preto ao palheiro e ella contou-lhe o succedido, e elle respondeu-lhe que ella não tinha geito para nada. No dia seguinte disse o preto á princeza, que estava para se bordar um vestido para uma princeza que ia ser mulher do conde, e como ella sabia bordar que se podia encarregar d'isso,