Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/146

— 110 —

deu a licença e quiz vêr a doente, mas ficou maravilhado quando viu que a doente tinha a cara exacta do retrato da feira.

A princeza voltou no dia seguinte e por conselho da pobre pediu ao principe um copo d'agua d'aquella fonte de neve, pois talvez lhe désse saude. O principe mandou vir um rico copo que encheu de agua e lhe offereceu; mas ella, quando lhe ia a pegar, deixou cair e feriu um pé no vidro. O principe ficou muito afflicto por ella se ter ferido, pois já estava devéras apaixonado; mas a princeza disse que aquillo não valia nada, que o peor era ter quebrado o copo; pediu mil desculpas e foi-se embora encostada á velha.

Quando o principe á noite se foi deitar ainda com peores modos para a princeza, e tendo-lhe chegado a um pé, ella disse:

«Ai meu pé ferido,
Em fonte de neve,
Em copo de vidro.»

O principe, julgando que ella dizia aquillo por saber do que se tinha passado na quinta, disse que não se importasse com o que elle fazia; mas ella continuou a repetir as mesmas palavras, até que elle accendeu a luz e conheceu que a princeza era a doente da quinta. Ella então disse-lhe que a dama feia que elle tinha visto nas cavalhadas era uma aia sua e que o tinham enganado, pois que o retrato que estava na feira era realmente d'ella. O principe ficou muito contente, não sabendo nunca que a velha fôra quem tinha quebrado o encanto que trazia feia a princeza.

(Coimbra.)