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dos carneiros tres cães que filavam a tudo que encontravam. Era muito feliz na caça; todos os caçadores o chamavam para irem á caça com elle.

Um dia chegou a um monte e estava lá uma rapariga e assim que o viu disse-lhe: «Fuja, meu tio, que vem lá a bicha de sete cabeças e mata-o». «Que bicha será essa a que eu não posso atirar?» «É uma bicha que todos os caçadores teem andado a ver se a podem matar e não a matam e elle todos os dias come uma pessoa que vem ao monte, se lhe cae a sorte n'ella. Eu era filha do rei e caiu-me a sorte.» Elle disse: «Não tenho medo; eu hei de matal-a que trago aqui tres cães que filam a tudo.» N'isto chegou a bicha que a duas leguas de distancia já se ouvia rugir.

Chegou a bicha e elle assogou-lhe os cães e matou-a. Depois então a menina disse-lhe: «Venha commigo que ha de ter um grande premio de meu pae, que até disse que se algum homem matasse a bicha me dava a elle em casamento». «Eu agradeço, mas não quero». «Então venha commigo que meu pae dá-lhe um grande premio». «Eu não preciso de nada». Ella então tomou um annel d'ouro e deu-lh'o e elle acceitou-o.

O homem foi á bicha e cortou-lhe as linguas das sete cabeças e embrulhou-as no lenço, que metteu no bolso.

Isto constou por toda a parte e como o rei tinha dado a palavra que dava a filha a quem matasse a bicha, um preto que soube d'isto foi ao monte, cortou as cabeças á bicha e foi com ellas ao rei, dizendo que tinha morto a bicha e que lhe désse a filha. «Minha filha não tens remedio senão casar com o preto.» «Meu pae quem matou a bicha foi um homem muito bonito que tinha tres cães e disse que não queria o premio, nem casar commigo e até eu por lembrança lhe dei o meu annel». «Não tens remedio senão casar com o preto, pois, elle é quem trouxe as cabeças.»

N'isto estava o casamento preparado e o homem que matara a bicha andava no monte á caça com uns caçadores e estes contaram que a filha do rei ia casar com o