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vezes ao palacio e tendo visto um dia Maria Silva sentiu grande paixão por ella; mas ao reparar que ella tinha uma mancha na testa e que lhe faltava um dedo na mão direita lembrou-se do que tinha feito a uma creancinha que uma voz lhe tinha dito lhe havia de pertencer. Então o principe resolveu fazer uma coisa muito má. Comprou tres anneis de oiro muito ricos e presenteou com elles as tres creadas da princeza e disse-lhes que aquella que ao fim de tres dias não lhe apresentasse o annel morreria enforcada. Depois recommendou ás duas creadas que fizessem com que Maria Silva perdesse o annel, que as havia de premiar bem.

As creadas taes traças empregaram que fizeram com que o annel de Maria Silva caisse ao mar, mas Maria Silva não se affligiu de o vêr cair. No dia seguinte quando o pescador veiu trazer o peixe para o palacio, ella pediu ao cozinheiro que lhe deixasse amanhar o peixe e encontrou o annel no bucho d'um savel. No dia em que o principe veiu para vêr se todas ainda tinham os anneis, Maria Silva apresentou-se muito contente e o principe ficou maravilhado de lhe achar o annel que lhe dera, e bem assim, as outras creadas que tinham a certeza de lh'o ter feito cair ao mar. Então o principe perguntou á Maria Silva como é que ella para alli tinha vindo, ao que ella respondeu:

«N'uma silva fui achada;
Por uma cabra fui creada;
Um pastor me educou
E agora aqui estou.»

Então o principe contou-lhe tudo o que lhe tinha feito e disse-lhe que já não casava com a princeza, pois era ella, a Maria Silva, que ia ser sua esposa.

(Coimbra.)