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XV

publicar não vieram para o nosso paiz recentemente e pelo canal mencionado.

1.º Todos esses contos proveem directa ou indirectamente da bocca popular; quasi todos foram aprendidos na infancia pelas pessoas que nol-os escreveram ou nol-os narraram e em geral, como essas pessoas nol-o affirmaram, de pessoas d'edade. A maior parte dos contos de Coimbra remontam a uma velha Evangelista que morreu com mais de cem annos na Misericordia d'aquella cidade;

2.º Nos antigos escriptores portuguezes, nos adagios, nos proloquios da lingua ha allusões a esses contos, ou a contos do mesmo genero;

3.º Alguns antigos escriptores portuguezes apresentam versões litterarias d'esses contos;

4.º A comparação prova que n'esses contos ha particularidades antigas que faltam ou se acham alteradas nas versões litterarias extrangeiras que modernamente entre nós podiam ser conhecidas;

5.º Muitos d'esses contos não se acham em versões extrangeiras traduzidas ou conhecidas em Portugal.

Diremos alguma cousa com relação ao 2.º 3.º e 4.º ponto.

Soropita no fim do seculo XVI allude ao conto das Tres Cidras do Amor: «Appareceram por prôa as Tres Cidras do Amor(Poesias e Prosas ineditas, publ. por C. Castello Branco, p. 103)[1].

  1. Th. Braga citou já esta passagem n'um estudo sobre os contos populares portuguezes, publicado nos Estudos da edade media e refundido duas vezes, a primeira na Revista de Portugal e Brasil I, 157-160, 191-195, II, 68-80, 91-92, a segunda na Rivista di letteratura popolare diretta da G. Pitré, F. Sabbatini, vol. I (que não podemos ainda ver); reproducção na Evolução (de Coimbra) n.os 10-12. Th. Braga pretende ver na expressão Gatas borralheiras, em Jorge Ferreira de Vasconcellos, designado mulheres que vivem na cozinha, uma allusão ao conto da Cendrillon, como se uma tal expressão não podesse existir, anteriormente ao conto; a Cendrillon foi denominada entre nós gata borralheira, porque esta expressão existia já na lingua geral.