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— Pois meu pae eu hei de casar com este senhor que foi quem teve o trabalho de me desencantar.

Casou com o homem e o outro foi-se embora.

(Ourilhe).




LXXIV


O OVO PARTIDO


Era uma vez um homem que tinha uma filha e tinha um creado, e veiu por lá um brazileiro, e disse-lhe: «Se me deixasse ir o seu creado até eu passar aquella serra que levo o meu dinheiro e tenho medo que me roubem?» Elle mandou-lhe o creado e o creado de volta disse: «Oh senhor! não me dá a sua filha que quero casar com ella?» E elle disse-lhe: «Sempre és muito malcreado! Se não fôra eu ter-te amizade punha-te já fóra da porta com uma carregadeira de pau.» «Senhor, olhe que eu estou rico, que eu matei o brazileiro e tirei-lhe este dinheiro.» E mostrou-lhe o dinheiro. «Eu não duvido dar-te a filha, mas has de ir tres vezes a eito á volta da meia noute onde o mataste escutar o que ouvires.» O moço foi. Perguntou-lhe o amo: «Tu que ouviste?» Eu ouvi dizer: «Tu pagarás.» Torna lá e has de lhe perguntar: eu quando é que hei de pagar?»

O creado foi lá e a voz disse-lhe: «D'aqui a trinta annos.» E o amo disse-lhe: «D'aqui a trinta annos já eu não sou vivo. Casa com a minha filha.» Fez-se o casamento, já se sabe.

Passados trinta annos andavam dous pobres a pedir e foram pedir áquella casa. E o pae da rapariga disse: