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«Venham para dentro.» E ao tempo que elles iam a entrar embarraram n'uma cesta que tinha ovos e quebraram um e o dono da casa ralhou com elles. Elles disseram: «Ó senhor! não ralhe comnosco a troco do ovo que nós pagamos-lh'o, ainda que elle custe uma moeda.» E elle disse: «Não é por isso; é que a roda emquanto anda, anda e quando começa a desandar má vae ella. Ha trinta annos que dei a casa a minha filha; ha trinta annos não dei nenhuma esmola, e até hoje não tive nenhuma perda, só agora a d'um ovo!»

Os homens deitaram-se e um disse para o outro: «Tu dormes?» «Eu não; vamo-n'os d'aqui embora; casa que ha trinta annos não dá esmola nem teve perda senão hoje, aqui acontece alguma desgraça.» O outro disse: «Mas nós aonde havemos d'ir dormir? isto é fóra d'horas; não achamos pousada.» «Pois emfim vamo-nos, como nós fiquemos fóra dos beiraes d'ella... fiquemos mesmo detraz d'uma parede.»

Sahiram; ficaram ahi perto das casas atraz d'uma parede e de noite ouviram um grande ruido, e disse um para o outro: «Tu ouviste aquillo?» «Eu ouvi.» «Olha que foram certamente as casas do fidalgo a cair.»

Ao outro dia, assim que foi dia, foram vêr e nem viram casas, nem telhas, nem nada, e no logar da casa havia uma grande cova.

(Ourilhe.)




LXXV


O SOLDADO QUE FOI AO CEO

Eram uma vez dou rapazes e foram para a praça; assentaram praça n’um dia ambos; eram muito amigos