Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/48

— 12 —

curar um padrinho para o seu netinho e no caminho encontrou um lobo, que lhe perguntou: — «Onde vaes tu velha?» Ao que ella respondeu: — «Vou arranjar um padrinho para o meu neto.» — «Oh velha, olha que eu como-te!» — «Não me comas, que quando se baptisar o meu menino, dou-te arroz doce.» Foi mais adeante e encontrou outro lobo que lhe fez a mesma pergunta e ella deu-lhe a mesma resposta. Depois encontrou um homem que lhe perguntou o que ella ia fazer e como ella lhe respondesse que ia procurar um padrinho para o seu neto, elle offereceu-se logo para isso. Depois a velha contou-lhe o encontro que tinha tido com os lobos e o homem deu-lhe uma grande cabaça e disse-lhe que se mettesse dentro d’ella que assim iria ter a casa sem que os lobos vissem. A velha metteu-se na cabaça e esta começou a correr, a correr, até que encontrou um lobo que lhe perguntou: Ó cabaça, viste por ahi uma velha?»

«Não vi velha, nem velhinha;
Não vi velha, nem velhão;
Corre, corre, cabacinha;
Corre, corre, cabação.»

Mais adeante encontrou outro lobo que perguntou tambem: — «Ó cabaça, viste por ahi uma velha?»

«Não vi velha, nem velhinha;
Não vi velha, nem velhão;
Corre, corre, cabacinha;
Corre, corre, cabação.»

A velha, julgando que já estava longe dos lobos deitou a cabeça fóra da cabaça, mas os lobos, que a seguiam, saltaram-lhe em cima e comeram-n’a.

(Coimbra.)