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gou a uma casa onde lhe perguntaram se elle sabia lêr e tendo elle respondido que sim disseram-lhe que o não queriam. Foi a outra casa e tendo-lhe feito a mesma pergunta, respondeu que não e lá acceitaram-n’o. O amo d’elle era um estrujeitante; de noite escrevia e o rapaz ia vendo o que elle escrevia sem que elle o suspeitasse.

Foi o amo uma occasião para fóra de casa e o rapaz leu-lhe todos os livros magicos por onde aprendeu a estrujeitar e foi depois d’isso para casa dos paes. Quando a mãe o viu, disse-lhe: — «Ai filho, tu vens tão magro!» — «Deixe-se estar, que eu ainda hei de engordar. Eu vou fazer-me em galgo e o meu pae leva-me á feira preso por uma fita, mas não venda a fita; traga-a, senão vende-me a mim.»

Foi á feira feito em galgo; juntaram-se muitos caçadores e compraram o galgo; queriam tambem comprar a fita, mas o pae não a vendeu e metteu-a no bolso.

Chegaram os caçadores, que compraram o galgo, a um monte e appareceu-lhe uma lebre; soltaram-lhe os cães todos mais o galgo; o galgo passou por um oiteirinho, desapparecendo da vista dos caçadores, fez-se em homem e seguiu para os caçadores, que lhe perguntaram: — «Ó homenzinho! viu passar por aqui um galgo?» — «Vi; vae ahi adeante e tem pernas de prata.» — «Custou-nos tantas moedas.» — «Faça a tenção que ellas foram como dadas.»

Chegou o rapaz a casa e disse-lhe o pae: — «Ó filhinho tu tardaste tanto!» — «Escuite, meu pae, que eu já andei á lebre. Ámanhã ha outra feira e eu hei de ir lá fingido n’um cavallo; venda o cavallo caro, mas não venda o freio, senão vende-me a mim.»

Foi o pae á feira; mas lá estava o amo que conheceu o rapaz no cavallo e o comprou por todo o dinheiro, teimando em levar o freio; juntou-se muita gente que ateimava que elle tinha comprado freio e cavallo, de modo que o pae não teve remedio senão deixar ir tambem o freio.

O amo entregou o cavallo a um moço e, apontando--