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roubarem a caixa trazia-a sempre comsigo e dormia com ella debaixo da cabeça.

Ora o irmão que estava preso tinha um cão e um gato que logo que souberam que o seu dono estava preso tractaram de ir ter com elle á prisão. Chegados lá souberam que o conde irmão do seu dono lhe tinha roubado a caixa e cuidaram ambos de ir ao palacio d’elle para trazerem a caixa. Para esse fim fizeram um batel de casca de abobora, pois tinham de atravessar o mar.

Chegados ao palacio do conde souberam logo que elle dormia com a caixa debaixo da cabeça e então o cão disse ao gato: — «Eu metto-me debaixo da cama e tu vaes á cozinha molhar o rabo no vinagre e chegas com elle ao nariz do conde e, emquanto elle espirra, eu tiro a caixa e depois fugimos com ella.»

Assim fizeram, e logo que se acharam fóra do palacio embarcaram no batel e foram navegando; e então avistaram um navio de ratos que assim que os viram içaram bandeiras de guerra; mas elles que iam de paz, não fizeram mal aos ratos e contaram-lhe o motivo que ali os levava; então os ratos disseram; — «Se formos precisos ao seu serviço, aqui estamos.» — «Obrigados» responderam o cão e o gato.

Quando já estavam quasi no termo da viagem tiveram grande questão por causa de decidirem qual havia ir levar a caixa ao dono, e n’este dize tu, direi eu, deixaram cair a caixa ao mar. Então o cão todo afflicto disse: — «Valha-me aqui o rei dos peixes.» E logo appareceu um grande peixe que lhe disse: — «Aqui estou; dize o que queres.» — «Eu vinha em viagem mais o gato e traziamos uma caixa que nos caiu ao mar e só vossa magestade nos póde valer.» — «Eu não sei d’isso mas vou chamar os meus vassalos, pois talvez elles saibam.» Então vieram muitos peixes e uma lagosta que trazia uma perna quebrada disse: — «Eu vi essa caixa, por signal que me cahiu sobro uma perna o m’a partiu.» O rei dos peixes ordenou-lhe que fosse buscar a caixa e deu-a ao