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cão e tanto este como o gato depois de mil agradecimentos partiram para a prisão do seu dono, resolvendo levarem ambos a caixa ás costas.

O dono ficou muito contente e abriu a caixa e disse ao pretinho: — «Quero desfeita esta prisão; quero um palacio em frente do de meu irmão e quero casar com a filha do rei.»

Tudo assim foi e elle então foi ter com o irmão e disse-lhe: — «Podia fazer-te muito mal, mas não quero; antes hei-de repartir comtigo a minha riqueza e seremos d'hoje em deante muito amigos.»

Esquecia-me dizer que o cão e o gato tiveram colleiras d'ouro fino e pedras preciosas e morreram muito velhos.

(Coimbra.)




XVIII


OS DOIS IRMÃOS

Eram d’uma vez dois irmãos que eram soldados d’um regimento francez, mas que eram tão maltratados que até fome passavam. Um dia disse o mais novo para o mais velho: — «Irmão, isto não se pode soffrer; é melhor nós fugirmos e irmos correr esse mundo de Christo.» Respondeu o mais velho: — «Não, que nos podem apanhar e matar-nos.» O mais novo, porém, não o quiz attender e um bello dia fugiu. Caminhou, caminhou sem encontrar que comer até que foi ter á porta d’uma grande quinta onde avistou um formoso pomar em que as laranjeiras vergavam ao peso das laranjas. Bateu á porta e tornou a bater e como lh’a não viessem abrir, resolveu-se a escalar o muro para ir comer laranjas. Como não lhe apparecesse ninguem, elle comeu a fartar e es-