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XXII


O HOMEM DA ESPADA DE VINTE QUINTAES


Era uma vez um homem e uma mulher e não tinham filho nem filha; a mulher já era velha e disse assim para o homem:

— Homem, nós não temos um filho para herdar o que nós temos.

E depois o homem disse assim:

— Tu, mulher, que queres? é vontade de Deus, que se lhe ha de fazer?

Deus deu-lhe um filho, mas elle crescia da noite para o dia e na primera noite que nasceu comeu dois pães molletes de pataco, a pontos que a mulher não tinha leite para crear o menino; compra (com sua licença) uma jumentinha para elle mammar. Chamavam-lhe o Mamma-na-burra.

Ella já não tinha mais que lhe dar que comer; o menino já tinha sete annos e disse ao pae que queria uma espada que tivesse vinte quintaes de ferro; o pae foi encommendal-a ao ferreiro; a espada no fim de dois mezes estava feita e o ferreiro disse que a fosse buscar e que levasse dois carros e duas juntas de bois e depois então o pae mandou o filho buscar a espada; elle chegou ao ferreiro pediu a espada e diz o ferreiro assim:

— Que é dos bois e do carro?

— Não é preciso os carros, que eu pego n'ella.

O ferreiro apostou como elle não pegava na espada; se elle pegasse na espada o ferreiro devia dar a elle seis contos de reis e se elle não pegasse dar-lhe-hia o Mamma-na-burra outro tanto.

Elle foi pedir o dinheiro a um tio rico, que tinha, para depositar ao ferreiro; pegou na espada e andou com ella e o ferreiro perdeu assim a aposta.