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— Quero que me botes lá em cima.

— Dá-me a orelha.

— Dou; põe-me lá em cima que eu dou-t'a.

O demonio pegou n'elle e pôl-o lá em cima do poço e o Mamma-na-burra não lhe deu a orelha. Avistou os outros dois muito longe a fugir com as princezas para o palacio. Pegou elle e seguiu atraz d'elles; não podia ir pelo caminho que todos lhe cobiçavam o cabello; foi a um matadoiro onde se matavam bois; pediu uma bexiga de boi para metter na cabeça e foi indo, indo, até a casa d'um lavrador defronte do palacio do rei; pediu que fazer e o lavrador deu-lhe que fazer.

O lavrador não tinha mais que lhe dar a fazer, nem mais que lhe dar a comer. N'um domingo tinha de haver uma corrida de cavallos á porta do palacio do rei; o demonio foi-lh'o dizer e elle disse-lhe que lhe aprontasse o melhor cavallo que houvesse e foi para a corrida sem ser convidado. Era o melhor cavalleiro que lá andava; perguntavam-lhe d'onde elle era e elle dizia que era um viajante que ia correr terras.

Convidaram-no de lhe fazer um circo de espadas e peças; se elle não obedecesse e não dissesse d'onde era que o matariam; o demonio soube-o e foi avisal-o e disse-lhe que elle que se livrasse das espadas que elle diabo o livrava do fogo.

O Mamma-na-burra não obedeceu a nada; o cavallo, que era o proprio diabo, pinchava por cima das espadas; e quando iam a atirar o fogo este não pegou, porque o diabo tinha-lhe ido mijar. Assim o Mamma-na-burra escapou. Pescaram para onde elle entrou; foi o rei convidal-o para jantar; o demonio disse-lhe que fosse e elle foi.

Quando entrou pelo palacio dentro as princezas viram-no da janella; ellas diziam sempre ao pae que não tinham sido aquelles homens que as tinham desencantado e depois começaram a dizer ao pae que aquelle homem é que as tinha desencantado; disseram que lhe tinham dado prendas. O rei perguntou-lhe por ellas e elle