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com uma coberta de ricos manjares. Comeu o homem á farta, e dos sobrejos ainda repartiu com algumas pessoas pobres que encontrou no caminho. Como porém anoiteces-se, o homem foi pernoitar a uma estalajem, e á vista do estalajadeiro ordenou á mesa que se pozesse, e logo appareceram novamente ricos manjares. O estalajadeiro vendo isto, esperou que o homem estivesse dormindo, e trocou a mesa por outra egual no feitio, mas que não tinha o condão d'aquella.

Levantou-se o homem de madrugada pegou na mesa ás costas e foi para casa da mulher e dos filhos. Ao chegar ali disse: «Meus queridos filhos e minha querida mulher, já não precisamos de trabalhar para comer, pois el-rei deu-me uma mesa que nos apresenta comer todas as vezes que eu quizer.» Então a mulher e os filhos, que estavão cheios de fome, disseram que lhes désse de comer; mas debalde o homem dizia: «Põe-te mesa, põe-te mesa,» que a mesa não se punha. Lembrou-se então elle que talvez o estalajadeiro lh'a tivesse trocado, e voltou á estalagem, mas elle negou e tornou a negar que tal não tinha feito. Foi-se o homem ter com o rei e contou-lhe o succedido. Então o rei deu-lhe uma peneira e disse-lhe: «Quando quizeres dinheiro dirás: peneira, peneirinha; cair-te-ha d'ella dinheiro em vez de farinha.» Foi-se o homem ainda mais contente do que da primeira vez, mas como fosse outra vez pernoitar á estalagem, e o estalajadeiro visse que elle tirava dinheiro da peneira, fez o mesmo que tinha feito á mesa; e o homem, ao chegar a casa viu que tinha sido novamente logrado. Voltou a queixar-se ao rei; e elle deu-lhe uma cacheirinha, e disse-lhe: «Vae á estalagem com esta cacheirinha, e diz: desanda cacheirinha, desanda cacheirinha, e em quanto o estalajadeiro não te der a mesa e a peneira, manda-a sempre desandar.» Foi o homem, e fez o que o rei lhe disse, e o estalajadeiro massado, com pancadas, deu a mesa e a peneira ao homem. Voltou este todo alegre e contente para sua casa com as tres prendas que lhe dera o rei. Quando os filhos, elle e a mulher tinham fome,