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que estava para ser sua esposa: «Então a menina quer casar com um carneirinho?» Ao que ella respondeu: «Não tem duvida, que eu quando me for deitar, mato-o.» Casou o carneirinho com a filha mais velha do rei do conselho, e á noite quando se foi deitar, viu que ella tinha uma faca de baixo da cabeceira para o matar; e elle então tirou a faca e matou a menina.

Passado tempo tornou o carneirinho a dizer á mãe: «Minha mãe eu quero casar com a segunda filha do rei do conselho.» «Então tu filho queres casar outra vez?» Foi outra vez o carneirinho a casa do rei do conselho, e disse á que estava para ser sua esposa, o mesmo que tinha dito á irmã, e ella respondeu tambem: «Deixal-o, que eu mato-o.» Casaram, e succedeu o mesmo, que da primeira vez. Tornou outra vez o carneirinho a dier á mãe: «Eu quero casar com a filha mais nova do rei de conselho.» A mãe deu-lhe a mesma resposta que das outras vezes. Foi o carneirinho, outra vez transformado em um lindo principe, dizer á filha mais nova do rei do conselho: «Então a menina quer casar com um carneirinho?» Ao que ella respondeu: «Deixal-o; é Deus que m'o dá.»

Ora o carneirinho branco, era nem mais nem menos do que um principe encantado, e para se transformar em principe despia sempre sete pelles; na noite em que se casou pela terceira vez despiu tambem as sete pelles, e disse á menina, que elle era um principe encantado, mas que ninguem tal sabia, nem mesmo sua propria mãe, e que não dissesse ella nada d'isto a ninguem. A menina ficou muito contente, e não se poude conter sem que n'outro dia fosse dizer á mãe do carneirinho, que seu filho era um principe encantado. Á noite quando se foi deitar, disse-lhe elle: «Recommendei-te que não dissesses que eu era um principe, e tu fostes dizel-o; tinha-se acabado o meu encanto, e tu fizeste com que eu tenha de andar mais sete annos encantado: eu agora vou-me embora para o rio Sul, e tu irás procurar-me.»

Foi-se o carneirinho embora, e a menina, e a mãe