O principe real do Limo Verde veiu, como de costume, encantado n'um grande e lindo papagaio; foi chegando e batendo com as azas na janella do quarto; a namorada abriu-a, e elle foi dizendo: «Dai-me sangue, dai-me leite, ou dai-me agua!» A moça apresentou-lhe um banho n'uma grande bacia; o papagaio cahiu dentro da agua á se arrufar e bater com as azas; cada pingo d'agua que lhe cahia das pennas era um diamante, e assim é que a moça ia ficando cada vez mais rica. O papagaio, no banho, desencantou-se n'um lindo principe, que passou a noite com a sua namorada. De madrugadinha tornou a virar em papagaio, bateu azas e foi-se embora. A mulher dos tres olhos não viu nada; voltou para casa e disse á mãi que tudo eram boatos falsos, e que na casa da visinha não havia novidade.

D'ahi a tempos a irmã de dous olhos se offereceu para ir passar tambem uma noite na casa da visinha; foi e chupou da dormideira, pegou no somno, e veiu o papagaio, e ella nada viu. Voltou para casa sem descobrir o segredo. Passados dias, a moça de um só olho se offereceu á mãi, dizendo: «Agora, minha mãi, minhas irmãs já foram, e eu quero tambem ir descobrir o segredo.» As irmãs caçoaram muito d'ella: «Quando nós, que temos mais olhos do que tu, não vimos nada, quanto mais tu, que tens um só!…» Emfim a velha consentiu, e a sua filha de um só olho foi. Chegando lá, fez muita festa á rica visinha, e, quando foi a hora da ceia, fingiu que bebia a dormideira, e derramou-a no seio. Deitou-se e fingiu que estava dormindo. Lá para alta noite chegou o grande e bonito papagaio, batendo com as azas na janella; a dona da casa abriu, e elle se desencantou n'um moço muito formoso, e, como das outras vezes, dentro da bacia do banho ficou muito ouro e muitos brilhantes que a namorada guardou. A sujeitinha de um olho só via tudo caladinha. No outro dia bem cedinho largou-se para casa e contou tudo á mãi. No dia seguinte a ve-