lha foi quem veiu passar a noite na casa da moça. Quando entrou para o quarto de dormir disfarçou e collocou umas navalhas bem afiadas na janella por onde tinha de entrar o papagaio. Elle, quando veiu se cortou todo nas navalhas e disse para a namorada: «Ah! Maria ingrata, nunca mais me verás; só se mandares fazer uma roupa toda de bronze e andares até ella se acabar...» Bateu azas, e voou. A moça, que não esperava por aquillo, ficou muito desgostosa, e lógo comprehendeu a razão das vistas d'aquella gente á sua casa. Mandou fazer uma roupa toda de bronze, e com chapéo, sapatos e bastão tambem de bronze, e largou-se pelo mundo a procurar o reino do Limo Verde. Depois de muito andar, sem ninguem lhe dar noticia, foi ter a casa do pai da Lua. Lá chegando disse a que ia. O pai da Lua a recebeu muito bem, lhe disse que só sua filha lhe poderia dar noticia de tal terra, que elle não sabia; mas que ella, quando vinha para casa, era muito aborrecida e zangada com todos, que portanto a peregrina se escondesse bem escondida. Assim foi. Quando ella chegou, veio muito enjoada, dizendo: «Aqui me fede a sangue real!» O pai a enganou, dizendo: «Não, minha filha, aqui não veiu ninguem, foi um frango que eu matei para nós cearmos.»
A Lua tomou banho e se desencantou n'uma princeza muito formosa e foi para a mesa cear. Ahi o pai disse: «Minha filha, se aqui viesse uma peregrina indagar por uma terra, tu o que fazias?» — «Mandava entrar e tratava muito bem, e se está ahi appareça.» A moça appareceu e disse a sua historia. A Lua lhe respondeu que andára muitas terras; mas que d'aquella nunca tinha ouvido nem fallar, mas o Sol havia de saber. A moça se despediu, e, na sahida, a Lua lhe deu de presente uma almofadinha de fazer rendas toda de ouro, com os bilros de ouro, alfinetes de ouro et cetera tudo de ouro. A moça seguiu. Ao depois de muito andar, e estando já com os vestidos de bronze quasi acabados,